Porque a Bíblia Católica Tem 7 Livros a Mais? Entendendo a Diferença dos Cânones
Os Livros em Questão: Quem são os “7 Livros a Mais”?
Antes de saber porque a Bíblia católica tem 7 livros a mais, é fundamental saber quais são eles. Esses livros, que estão presentes no Antigo Testamento da Bíblia Católica, são chamados de deuterocanônicos pela Igreja Católica e de apócrifos pelos protestantes. O prefixo “deutero” significa “segundo”, indicando que eles foram adicionados ao cânon em um segundo momento. Já a palavra “apócrifo” significa “escondido” ou “não genuíno”.
Os livros são:
- Tobias
- Judite
- I Macabeus
- II Macabeus
- Sabedoria
- Eclesiástico (ou Sirácida)
- Baruque
Além desses, há adições em outros livros, como em Daniel (a oração de Azarias e a história de Suzana) e em Ester.
O Contexto Histórico: Os Cânones e as Tradições
A diferença entre os cânones protestante e católico remonta aos primeiros séculos do cristianismo e às tradições judaicas. A Bíblia Protestante segue o cânon hebraico do Antigo Testamento, enquanto a Bíblia Católica segue o cânon da Septuaginta, uma tradução grega das Escrituras Hebraicas.
A Septuaginta foi traduzida por volta do século III a.C. para a comunidade judaica de Alexandria, no Egito, que falava grego. Essa versão continha os livros deuterocanônicos, que foram escritos originalmente em grego ou hebraico e aramaico, mas que não foram incluídos no cânon judaico oficial, que só foi finalizado por volta do século I d.C.
No tempo de Jesus, a Septuaginta era a versão da Bíblia mais usada pelos judeus de língua grega e, aparentemente, por muitos dos apóstolos e escritores do Novo Testamento. Por isso, a Igreja Primitiva, que se espalhava pelo mundo de língua grega, adotou a Septuaginta como sua versão oficial do Antigo Testamento.
A Grande Divisão: O Papel da Reforma Protestante
A questão de porque a Bíblia católica tem 7 livros a mais se intensificou com a Reforma Protestante, no século XVI. Martinho Lutero, o principal líder da Reforma, e outros reformadores, questionaram a inclusão dos deuterocanônicos no cânon.
Lutero defendia o princípio do Sola Scriptura (somente a Escritura), que afirmava que a Bíblia era a única autoridade para a fé e a prática cristã. Ele, então, decidiu que o cânon do Antigo Testamento deveria seguir o cânon hebraico, que não continha os livros deuterocanônicos. Para ele, esses livros, embora úteis para a leitura, não tinham a mesma autoridade canônica.
Os protestantes argumentavam que os livros deuterocanônicos não eram citados por Jesus ou pelos apóstolos como Escritura, e que não eram parte do cânon judaico. Portanto, não deveriam ser considerados inspirados por Deus. Por outro lado, a Igreja Católica mantinha sua posição de que a tradição da Igreja Primitiva era suficiente para a sua inclusão.
O Concílio de Trento: A Resposta da Igreja Católica
Como resposta à Reforma Protestante, a Igreja Católica convocou o Concílio de Trento (1545-1563). Uma das decisões mais importantes do Concílio foi a reafirmação do cânon católico, que incluía os 7 livros deuterocanônicos.
O Concílio de Trento declarou que esses livros eram divinamente inspirados e que tinham a mesma autoridade que os demais livros do Antigo Testamento. Essa decisão foi uma forma de a Igreja Católica se posicionar diante dos questionamentos dos reformadores e solidificar sua tradição.
A partir de então, a diferença entre os cânones católico e protestante se tornou oficial. O Concílio de Trento confirmou a posição católica de que os livros deuterocanônicos eram parte integral da Bíblia e que deveriam ser aceitos como tal.
Por Que Essa Diferença Ainda Importa Hoje?
A discussão sobre porque a Bíblia católica tem 7 livros a mais não é apenas um debate histórico. Ela tem implicações teológicas. Alguns ensinamentos católicos, como a oração pelos mortos, são defendidos com base em passagens dos livros deuterocanônicos (como em II Macabeus). Já os protestantes argumentam que, como esses livros não fazem parte do cânon, esses ensinamentos não têm base bíblica.
A existência dos dois cânones reflete as diferentes abordagens teológicas entre católicos e protestantes. A Igreja Católica valoriza a Tradição e o Magistério (o ensino da Igreja) em conjunto com a Escritura. Já o Protestantismo se baseia na Escritura como única fonte de autoridade.
Em resumo, a razão para a diferença no número de livros na Bíblia é histórica e teológica. A Bíblia Católica, com os 7 livros a mais, segue a tradição da Septuaginta, que era a Bíblia da Igreja Primitiva. A Bíblia Protestante, por sua vez, adota o cânon hebraico, rejeitando os livros que não faziam parte dele.
Entender essa distinção nos ajuda a respeitar as diferentes tradições e a aprofundar nosso conhecimento sobre a história da Bíblia. Mais do que contar livros, a essência do estudo da Bíblia é buscar o coração de Deus e a Sua Palavra, que é a mesma para todos os que creem.